quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A cultura do tabaco na ilha de São Miguel

Desde o inicio de oitocentos, as experiências efectuadas pelo desembargador Vicente José Ferreira Cardoso da Costa tinham aconselhado a introdução da cultura do tabaco na ilha de São Miguel, mercê da riqueza do seu solo e do seu clima.

O tabaco foi introduzido em S. Miguel em 1815. Inicialmente o seu local de produção foi nas Furnas, mais tarde com o declínio do ciclo da laranja, o tabaco surge como uma nova esperança a nível económico. Um dos grandes impulsionadores desta nova indústria foi José Bensaude que em 1866 funda a sociedade Fábrica de Tabaco Micaelense.




Esta cultura teve grande expansão nos Açores, originando o surgimento de cerca de 19 fábricas. Apesar de haver muita produção, eram poucos os consumidores, pois muitos agricultores produziam para consumo próprio. Tornou-se então necessário exportar para o Continente e para a Madeira, mas a lei de 18 de Agosto de 1887, veio prejudicar a Região, pois os tabacos açorianos exportados para o reino passaram a ser tributados com os mesmos direitos dos tabacos estrangeiros, dificultando assim o acesso ao mercado do continente e com o excesso de produção, muitas fábricas fecharam por falta de mercado.



Actualmente existe em Ponta Delgada, duas fábricas, a Fábrica de Tabaco Micaelense e a Fábrica de Tabaco Estrela, tendo sido esta última fundada em 1883, por José Medeiros Cogumbreiro. Na Maia zona de grande produção de tabaco antigamente, existe ainda uma fábrica que apesar de não laborar está transformada num núcleo museológico, dando assim o seu contributo para a preservação deste nosso património para as gerações futuras.

A sua produção:

São as fábricas que semeiam o tabaco a partir de sementes colhidas no ano anterior, as plantas são cedidas aos agricultores para manter a qualidade do tabaco, são transplantadas em Março ou Abril. Durante o período de desenvolvimento da planta o agricultor tem de manter o terreno limpo de ervas e arejar o solo com sachas. Vai fazendo a desponta (corte dos ramos e flores terminais) e esladroamento ou desneto (retirar os rebentos nascidos depois da desponta).



As plantas atingem a maturação em Julho ou Agosto, são então cortadas e estendidas no chão um a dois dias e depois colocadas a secar em lugar abrigado e arejado os “secadores”, aí com o passar do tempo as folhas vão mudando de cor, ficando num tom acastanhado ao fim de 25 dias, secas e sem humidade, depois as folhas são retiradas dos caules e seleccionadas por tamanho e agrupadas em molhos, seguindo depois para a fábrica para serem trabalhadas mecanicamente para o fabrico de diversos produtos como os cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos, rapé e para ser mascado.

domingo, 3 de outubro de 2010

A arte do azulejo nos revestimentos parietais exteriores, o caso da Vila da Lagoa, S. Miguel Açores

Azulejo: peça de cerâmica de pouca espessura quadrada com uma das fases decorada de maneira policromática ou monocromática, lisa ou com relevo, sendo vidrada o que a torna impermeável é usado como elemento associado á arquitectura.

Os seus padrões e usos variam consoante a época histórica.

Inicialmente os azulejos nos Açores eram importados do continente português e neste, alguns eram importados de Andaluzia e mais tarde, no século XVII e princípios de XVIII um dos mercados abastecedores era a Holanda. Os exemplares mais antigos conhecidos nos Açores pertencem ao século XV, foram importados para a ermida de Nossa Senhora dos Remédios da Lagoa.

Nos Açores, as fábricas de cerâmica surgiram nas duas principais ilhas, São Miguel e Terceira.

As primeiras tentativas de uma fábrica de cerâmica em São Miguel, foram na zona da Pranchinha em Ponta Delgada no ano de 1823 e depois em 1851, funcionando somente durante alguns anos, com pouca relevância.

Anos mais tarde surge a primeira fábrica na Lagoa, fundada em 1862 por Bernardino da Silva e Manuel Leite Pereira, naturais de Vila Nova de Gaia, Tomás de Ávila Boim, natural da ilha do Pico e Manuel Joaquim d’Amaral, natural da Vila da Povoação. Foi construída junto ao Porto dos Carneiros. Alguns anos depois Manuel Leite Pereira separou-se da sociedade acima referida e construiu uma nova fábrica no local das Alminhas, Vila da Lagoa, em 1872 com o nome de “Fábrica Açoriana” que rapidamente se afirmou pela qualidade dos seus produtos, em 1907 tinha cerca de 25 operários. Que ainda existe hoje em dia a funcionar.

Uma terceira fábrica surge em 1885 na antiga rua de São Sebastião, actual Av. Poças Falcão, Vila da Lagoa, por João Leite Pereira, natural de Vila Nova de Gaia e irmão de Manuel Leite Pereira, co-fundador da primeira fábrica e fundador da segunda.

Diz o Dr. Carreiro da Costa que o azulejo na Lagoa se fabrica desde que as fábricas começaram a laborar.

Anteriormente estes eram importados de Portugal, a produção mais antiga começa com a fábrica de Bernardino da Silva, que desde o início adopta as técnicas e modelos trazidos de Vila Nova de Gaia e Barcelos pelo próprio, e desde o começo manteve não só a produção de louça mas também de azulejos utilitários e de uso artístico. Nas fábricas da Lagoa foram feitos azulejos moldados, usando formas provenientes do Porto ou mesmo de Inglaterra, azulejos de pintura livre

A produção Micaelense de azulejo foi procurar inspiração ao que se fabricava no norte de Portugal, mais concretamente na zona Porto, ainda hoje em dia muitos dos azulejos que se encontram nas fachadas desta Vila da Lagoa, têm muito em comum com os da cidade nortenha, com algumas pequenas modificações, mesmos as cores são semelhantes, o uso do azul e branco, as dimensões 13x13 cm na sua maioria, surge assim o chamado azulejo padrão, que forma uma composição que é repetida, sendo acessível para o revestimento de paredes pois é de pouco custo.

Segue em exemplo a entrada da Fábrica anteriormente de Manuel Leite Pereira que na sua fachada tem uma espécie de catálogo dos tipos de azulejo que se podia encomendar, seus desenhos, padrões e cores, também existe neste espaço as barras que serviam de remate horizontal e vertical, há a cercadura que é composta por uma fileira de azulejo e as faixas que são compostas por meio azulejo, são peças rectangulares.


O processo de fabrico do azulejo era todo manual desde o amassar do barro com a água para o tornar numa massa com a consistência certa para ser depois trabalhado, sobre uma mesa colocava-se um pedaço de barro entre duas ripas de madeira paralelas da mesma espessura e era rolado até formar uma placa uniforme que depois com a ajuda de um molde tipo carimbo era recortado com uma faca, sendo as imperfeições corrigidas com uma lixa muito fina, eram colocados em estrados para serem secos ao sol.

Depois de cozidos em fornos de lenha, os azulejos eram empilhados para serem vidrados, esta primeira cozedura é chamada de chacote. Quando está pronto o vidrado tem aspecto leitoso, o azulejo é mergulhado e retirado sendo limpo o excesso com ajuda de uma lâmina isto evita que as peças se colam umas às outras.

Fica a secar para depois ser pintado, a face da pintura continua a ser na maioria manual aqui na Lagoa, sendo usado como processo semi-industrial a técnica da estampilha, onde é colocado sobre o azulejo uma máscara que pode ser em papel ou uma placa metálica com o desenho desejado, depois passa-se uma pincel com tinta sobre a placa conforme o número de cores varia o número de placas com desenho diferente. A tinta azul antes de ser cozida tem um tom vermelho que depois se altera por oxidação com a cozedura a alta temperatura devido á existência de ferro na sua composição ficando depois azul.

O azulejo de relevo era feito com um molde em gesso, o processo é igual aos outros só no final o barro era colocado dentro do molde que era primeiro untado com uma substância para evitar que o barro se cola-se, deixava-se secar um pouco e retirava-se, sendo o acabamento feito á mão para retirar as imperfeições.

O azulejo nos Açores foi usado inicialmente como revestimento de interiores principalmente em ermidas e igrejas, ou como decoração isolada em painéis, foi em S. Miguel e Santa Maria que se enraizou a moda de cobrir de azulejo a frente dos altares e segundo J. Santos Simões veio encontrar a mais extraordinária colecção destas curiosas aplicações que evoluíram no tempo para além do que se encontra em Portugal, sendo mais tarde usados em revestimento de paredes exteriores, a partir da segunda metade do século XIX.

Usados também em painéis historiados, placas de toponímia, nas chamadas Alminhas, painel de azulejos de pequena dimensão com decoração aleatória representando as almas do purgatório tendo na base iniciais P.N. (Padre nosso) ou A.V. (Ave Maria).



Primeira Fabrica Cerâmica 1862 – Porto dos Carneiros


Fachada na rua das Alminhas com azulejos enxaquetados


Casa situada na rua Calhau da Areia nº 51


Restaurante Borda d’Água


Casa na rua do Porto nº 7



Casa nº 37 na Rua da Boavista



Casa onde viveu Bernardino da Silva, rua da Boavista nº 5/7



Fachada do edifício de vendas inaugurado em 1952